O Pai Natal e o maiúsculo Menino
No meu tempo de menino
existia outro menino,
um maiúsculo Menino
que era o Menino Jesus.
Descia pela chaminé
num rumor inquietante
e do muito que eu pedira
deixava só o bastante.
De um senhor de barbas brancas,
um maiúsculo Papá
vindo dos confins do Norte,
só mais tarde ouvi falar.
Também trazia - oh que sorte! -
muitas prendas, um fartote.
Na mão direita um sininho
e um ar de velho menino.
Mais isto, que tinha graça:
fato vermelho, barrete,
um cinto a apertar o ventre
de fivela sem verdete.
Usava umas botas altas
e, é sabido, a senhor tal
alguém deu um nome querido:
"Se é Natal, é Pai Natal."
Ao invés do Deus-Menino,
os negócios conhecia
e p´ra fundos angariar
até anúncios fazia.
a centros comerciais,
telemóveis e consolas,
aquecedores, comidas
e até à coca-cola.
Ao contrário do Menino,
como era gordo, não queria
descer pela chaminé.
Está bom de ver: não podia,
pois muitos doces comia
nas viagens de trenó;
e das renas que o puxavam
era o primeiro a ter dó!
Deixava cair lá das núvens
roupa, bombons e brinquedos...
Nunca nada se quebrava.
Vinham depois os folguedos,
que p´ra tanta coisa nova
quase faltavam os dedos!
E o Pai Natal lá partia
para outra freguesia.
E que é feito do Menino
- agora pergunto eu -
quase sem roupa, nuzinho,
que tanta alegria me deu?
Será que voltou ao Presépio,
o ofício abandonou
e a amealhar cá na Terra
só o Pai Natal ficou,
entregue a contas e a anúncios
pagos pelas televisões,
a pedir dinheiro aos bancos,
um não acabar de aflições?
Mas que saudades eu sinto
desse tão doce Menino,
sem retrato no jornal,
que ia e vinha de mansinho!
Só que também sinto pena
deste pobre Pai Natal
matutando o ano inteiro
p`ra juntar um capital:
o baguinho necessário
p´ra tanta coisa mercar.
E entre grande confusão
nas casas ricas deixar
sempre mais do que é preciso;
e nas pobres, por azar,
um pouco mais do que nada
e uma tristeza a pairar.
João Pedro Mésseder